terça-feira, 24 de julho de 2007

O que disse Poe...



"Na minha opinião, um poema opõe-se a uma obra de ciência por ter como seu objectivo
imediato o prazer e não a verdade; opõe-se ao romance, por ter por seu objecto um prazer indefinido em vez de definido, sendo poema apenas e quando este objectivo é alcançado. O romance apresenta imagens perceptíveis com sensações definidas, e a poesia com sensações indefinidas, para cujo fim a música é uma parte essencial, dado que a nossa concepção mais indefinida é a compreensão de um som doce. A música, quando combinada com uma ideia aprazível, é poesia; a música, sem a ideia, é apenas música; a ideia, sem a música, é prosa por causa da sua própria qualidade de definição.
O que é que se queria dizer com a invectiva contra aquele que não tinha música na sua alma?"
Edgar Allan Poe, in «Letter to B-» - Julho de 1836

Quando esta carta se torna pela primeira vez conhecida, Poe tem 25 anos. Nela apresenta a sua primeira definição de poesia. Com base nesta sua definição, podemos reflectir, como ele mesmo o fez, acerca do que seja a poesia, a que princípios deve obedecer, que critérios adoptar para a sua avaliação, e tantas outras questões que se colocam relativamente a esta forma de manifestação literária.
Por certo, nenhum autor permanece vivo sem que seja relembrado mas, sobretudo, ele revive a partir do retomar de questões que assinalou e com as quais se preocupou. É continuando a reflexão sobre elas, na medida em que não existem soluções únicas para muitas interrogações do ser humano, que a sua memória permanece viva e inquietante no que é de nos inquietar.
O que é a poesia? O que deve ser ou não ser considerado poético? As perguntas continuam passíveis de novas respostas ou podem, ainda, obter de novo as mesmas respostas que se deram no passado.
Toda a reflexão é, em última análise, fruto de um processo conjunto, para o qual contribuem todos os que se interrogaram e os que ainda se interrogam, reflectindo sobre...
De acordo com muitos estudiosos de Poe, a sua definição de poesia terá sido formada a partir da opinião de um outro, Coleridge, o qual leu e que o influenciou.
De acrescentar que há na sua interpretação o traço da tradição estética introduzida por Emanuel Kant.
Aqui fica o tópico para reflexão...

(Imagem de autor desconhecido)

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Escape...



As Aves

Deixa-me suspender o braço
ao luar
Sentir que posso pairar
Acima dos turbilhões
da guerra

Deixa-me sentir as aves
a pairar
Negras por entre brumas
Aquáticas emergindo
com plumas

Sinto-as esvoaçar
Frias p'ra me levar
no ar
Sinto que adormeço
Rangem, abrem-se as portas
do universo

Vibram, tocam metais
Garras na minha pele
Tudo para enfeitar
Este meu verso

(Imagem: Calamity of Touch de Linda Bergkvist)

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Humor (Negro)



"O Corvo" interpretado pelos Simpsons!

terça-feira, 5 de junho de 2007

sábado, 2 de junho de 2007

Poe



" A desdita é variada. O infortúnio corre multiforme pela terra. Desdobrando-se sobre o amplo horizonte como o arco-íris, as suas cores são tão variadas como as deste, e também tão diferentes e tão intimamente unidas. Desdobrando-se sobre o amplo horizonte como o arco-íris! Como é que da beleza derivou um tipo de fealdade; da aliança e da paz, um simulacro da dor? Como na ética o mal é consequência do bem, na realidade da alegria nasce a tristeza. Ou a memória da felicidade passada é a angústia de hoje, ou as agonias que existem têm origem nos êxtases que podiam ter sido."
in Berenice, Edgar Allan Poe

Poe (1809-1849) teve uma vida muito infeliz. É considerado um dos maiores escritores do misterioso e do sobrenatural. Tenho, por ele, grande admiração.

Que há em ti, intuitivo escritor que me engrandeces
Pela alma forte que incendeias
Que há em ti? Força e magnetismo
Que em palavras rondas e rodeias
O coração fantasma de outras eras
Vagueando errante,
Ora perto, ora distante
Ainda hoje sentado, tremendo esperas
Voltar a ser tudo o que eras,
À negra sombra geométrica
Da árvore milenar, hoje mais hermética
Que ontem, no passado feito fumo,
Nos deu
O fruto que interdito nos perdeu
E em negro assim vestiu o nosso rumo

As folhas negras de uma árvore cor de sangue
Tombam em pétalas no meu corpo exangue
Pois quando a noite cai, a alma voa
Até que a luz do sol, sentir reclame...

E assim, poeta, o espírito engrandeces...
E assim, aqui, em mim, jamais pereces!

Sibila, em homenagem a Edgar Allan Poe

domingo, 27 de maio de 2007

Mistério de Afrodite

Teresa Salgueiro e Caetano Veloso

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Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.

David Mourão-Ferreira

terça-feira, 22 de maio de 2007