sábado, 19 de maio de 2007

Poesia negra de Babel



-Vieste e a alma vestiu-se de negro
Foste e a alma roubada com o olhar
Cada palavra, uma flecha
Atirada p'ra matar
-Era uma vez o horror
Instalado ficou
Insidioso ali penetrou
A conta-gotas largado
-Por trás de arestas cortantes
Nas esquinas dos edifícios
Por onde passamos
Morou disfarçado
-O corpo também morre assim
Perde-se por entre os dedos
Entrega-se aos sacrifícios
Pois Caim traiu Abel
Mas eu não sou Caim
Nem Abel
Meu nome é tão só Raquel
E morro dentro de mim
-Moro em Torre de Babel
Não posso entender-te a ti
Não posso entender-me a mim
-Subindo tão altas escadas
Procuro as palavras certas
P'ra lá dos sons e das vozes
Acima dos grandes clamores
Só vejo coisas incertas
E morro dentro de mim
-Subo passos de gigantes
Fujo p'ra terras distantes
Atrás de mim este horror
Dentro de mim este amor
E morro dentro de mim
-Do horror se faz amor
Ele mora comigo em Babel
E fica nesta morada
Que pode julgar-se dourada
Mas isso é só no papel
-E este amor que em mim mora
Julga-se negro por fora
E nada disso é assim
De arco-íris as cores
Brilhante dentro de mim!

3 comentários:

Anônimo disse...

esta é a ilutração da edição das cidades invisiveis de calvino que tenho

Anônimo disse...

de nada...aos sábados, no miniscente, seleciono e organizo os textos de antónio quadros.

Agharti disse...

Lindissimo.
Beijinho